Por Lourenço Stelio Rega
Tenho observado que muito do evangelho pregado e vivido hoje tem sido sincrético, seja com a ideologia contemporânea do individualismo, seja com religiões que não se fundam nos ideais do cristianismo, mas no fundo vão parar na mesma vala comum de secularismo e obscurantismo.
O indivíduo é o grande deus neste século. O que vale é a sua vontade, seus sentimentos, suas intuições, sua interpretação da realidade, seu desejo e seu projeto de vida. Se alguma coisa não estiver dando certo em sua vida e seu projeto histórico, algo necessita ser feito e vale tudo, começando, por exemplo, pela múltipla pertença, em que a pessoa deixa de ser fiel exclusivo de um determinado “deus”, igreja ou denominação e passa a buscar “recursos” em outras crenças e religiões – o importante aqui não é a sua convicção teológica ou fidelidade a uma “etiqueta” religiosa, mas se funciona ou não. É um tipo de religiosidade narcisista voltada somente para o indivíduo e seus interesses pessoais – Deus não conta, a não ser se ele pode dar um “jeitinho” no seu projeto pessoal.
Em vez disso é possível observar diversas “estratégias” para conquistar o transcendente e dobrar a sua benevolência em favor da pessoa. Entre alguns exemplos temos o vale do sal, arruda santa (talvez tenha sido “benzida” com óleo sagrado), copo d´água em cima da televisão, perfume para “encantar” o amor perdido ou o ainda não encontrado, que é entregue no culto que promove uma espécie de terapia do amor ou até mesmo livreto que vai trazer prosperidade se você seguir os rituais que ali estão alistados. Tem havido até “procissão” evangélica marchando para Jesus.
O altar de Deus onde depositaremos nossa vontade incondicionalmente é substituído pela vontade humana que deve ser seguida a qualquer custo. A graça de Cristo é substituída pela transformação do evangelho em mercadoria e bem simbólico de consumo que deve ser negociado com Deus por meio de despachantes-pastores que conhecem bem como fazer mandinga para dobrar a vontade lá do alto.